Uma hora da tarde, um calor de rachar asfalto e eu dentro de um micro ônibus a caminho do trabalho. Estava numa pasmaceira danada, digerindo um almoço e pensando na dificuldade de ficar frente a um monitor várias horas. Não adiantava reclamar, esse era meu destino.
O micro ônibus corre pelas ruas estreitas do bairro, quebrando bruscamente as esquinas num equilíbrio precário. Finalmente atinge as ruas do centro. Não é hora do rush, até o trânsito está preguiçoso nessa tarde de início de janeiro. Minha mente vaga inquieta, buscando manter-me acordada, ou melhor, afastada daquele ambiente entediante.
Num relance, algo chama minha atenção, estamos parado em um sinal vermelho um pouco demorado, meu olhar se volta para um mulher jovem parada sob uma quaresmeira. Seus braços estendidos tocam os primeiros galhos da árvore. A mão direita segura uma pequena lâmina. Observo do meu posto, pensei que fosse cortar um galho da árvore. Mas não foi esse o movimento. Ela parecia prestar atenção a um determinado local no galho. Ajustei meu olhar, e eis uma surpresa: a jovem cortava fitas plásticas e cordas que estavam enroladas na árvore!
Perto dela havia uma prancheta de anotação e algo escrito em caneta vermelha.
Pareceu-me que ela estava fazendo um trabalho planejado de limpeza das árvores do bairro. Senti-me internecida pela sua atitude, mesmo que esteja fazendo uma ação remunerada, porque esse é seu trabalho, mas o trabalho tem uma dimensão muito grande nessa épocas de tantos problemas ambientes e tantos descasos governamentais ou das pessoas no seu dia-a-dia.
Esse fato me fez ganhar o dia. Mas ainda tinha mais por vir.
Cheguei ao meu destino. Desci do ônibus e comecei minha caminhada até onde trabalho. Subo a rua por uma trilha no meio dos canteiros enquanto saboreio a sombra das árvores. Chego na esquina do último quarteirão, tomo fôlego para os andar os derradeiros metros. O que vejo? Um senhor afro descendente, de idade um pouco avançada catando papéis caídos na calçada. Mas em nada aparentava um catador de papel. Tinha nas mãos uma sacola de compra e um saco de ração para cães pousado perto dele.
Novamente senti-me intrigada. Será que este seria um dia especial?
Por pura curiosidade fiquei observando-o. O que faria com aquela embalagem de biscoitos? Acompanhei com o olhar seus movimentos de atravessar a rua e pegar mais papéis. Comecei a acreditar que o desfecho seria interessante. Junto todos os pequenos papéis que encontrou nas imediações e se encaminhou para uma cesta de lixo fixa na calçada. Abriu delicadamente um saco de plástico depositado ali a espera do caminhão do lixo. Depositou dentro o que recolhera e fechou novamente o recipiente de plástico. Calmamente continuou seu caminha.
Avancei no meu caminho, os passos pareciam mais leves. Aquelas duas pessoas fizeram o meu dia...alguém cuidava da Mãe Terra.
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